[The GrandFounder #71] Faz sentido captar investimentos sucessivamente?
Uma reflexão sobre rodadas múltiplas ou foco no mínimo de investimento necessário, como performaram os IPOs mais recentes do Brasil, aquisição da Witseed pela Exame e o legado de Steve Jobs.
🎢 Captação para startups: rodadas múltiplas ou foco no mínimo de investimento necessário?
Esta é a lição número #71 de Do ZERO ao EXIT em 100 lições, uma série de conteúdo autoral criada por mim com o objetivo de compartilhar as lições aprendidas vivenciando os desafios da minha jornada empreendedora na Hiper, do nascimento à venda da empresa.
O ciclo de vida de uma startup normalmente se entrelaça com captações de investimento. Tanto é verdade que em muitos casos o pensamento de captar investimento torna-se mais forte do que o negócio em si.
Captar investimento é uma ação estratégica, não o objetivo do negócio. Não se deve medir o sucesso de uma startup pelo quanto ela já captou. Embora você já tenha ouvido inúmeras vezes alguém se referindo a alguma startup como um caso de sucesso pelo fato de ter levantado um volume expressivo de investimentos.
Sim, isso é uma crítica.
A captação de investimentos pode ser sim uma estratégia positiva. Com mais dinheiro no caixa você consegue acelerar o ritmo de crescimento, assumindo um desbalanceamento entre receita e lucro por um período, usando o dinheiro captado para financiar a operação rodando no vermelho.
Outro benefício de grande valor é poder trazer para dentro do negócio expertise do seu grupo de investidores, bem como uma rede de conexões, que pode ter um baita valor estratégico.
Por outro lado, você entra num outro jogo, assumindo um compromisso com o retorno do valor investido para quem aportou no seu negócio. Não tem jeito, quando você capta uma rodada, define-se um valuation e (no mesmo instante) a expectativa de um retorno de X vezes aquele valor.
Assuma como exemplo o seguinte: captando R$ 5 milhões a um valuation de R$ 20 milhões, seus investidores certamente sonham com uma saída quando seu negócio estiver valendo (pelo menos) R$ 100 milhões. Você está assumindo um “compromisso” de levar a empresa a tal patamar.
Isso pode se tornar um peso, quando a pressão por crescimento acelerado passa a falar mais alto do que o desenvolvimento de um negócio sustentável no longo prazo.
Captamos investimento duas vezes durante a jornada da Hiper, um pouco mais de R$ 4,2 milhões. Tínhamos um negócio superatrativo para buscar grana em novas rodadas. Por que não captamos mais?
Sendo bem simples na resposta, porque não precisou.
A minha recomendação é que você pense no seguinte:
“Por que” e “Para que” eu preciso de grana de terceiros? — ter um plano de crescimento que te leva do ponto A ao ponto B é a base de tudo. Sem isso, não capte dinheiro algum.
O primeiro passo é ter clareza sobre o seu ponto B, onde você quer chegar numa determinada janela de tempo. Sabendo que o ponto A é onde você está agora, o plano financeiro vai responder para você quanto de dinheiro você vai precisar para executar tal estratégia.
Jamais o contrário, algo que muita gente faz… “Quero captar X milhões, como posso destinar (queimar) esse dinheiro?” Há um risco enorme de planejar besteiras para achar uma “utilidade” para o dinheiro.
Tendo definido quanto de dinheiro você precisará, pense nas possíveis fontes de recursos. Fundos de investimento? Anjos? Sócios? Linhas de crédito?
Defina a origem do dinheiro levando em consideração o alinhamento entre as expectativas (dos empreendedores e dos “donos do dinheiro”) e quais benefícios além do dinheiro você pode conseguir para ter sucesso no seu plano estratégico.
A Hiper foi adquirida por R$ 50 milhões três anos após termos captado nossa rodada de Série A, quando levantamos R$ 4 milhões. Se tivéssemos seguido com o pensamento de captações sucessivas de investimento, talvez estaríamos hoje num patamar de valuation onde não há tanta liquidez no mercado.
Em outras palavras, existem poucos compradores com bala na agulha para pagar muito mais do que R$ 200 milhões numa aquisição. Essa é uma consideração importante para todo empreendedor fazer.
Se a aquisição da sua startup está nos seus planos, tome cuidado para não avançar demais nas rodadas sucessivas de captação que te levarão a um ponto onde há menos chances de encontrar um comprador com disposição e fôlego para pagar o que você espera.
Captação é uma das formas de financiar o crescimento. Não torne-se refém de captações sucessivas para impulsionar sua startup se você tem faturamento e lucro. Tudo começa pela estratégia… e está sempre conectado com ela!
🔥 Bora para a resenha da semana?
IPO é um bom negócio?
A safra de IPOs no Brasil dos últimos 3 anos (2020-2022) é composta por 74 empresas. Foram 28 em 2020, 46 em 2021 e zeramos em 2022.
Ao analisarmos as 74 empresas da safra, apenas 10 apresentam resultados positivos, ou seja, valem mais hoje do que na data da abertura de capital. Empolgação zero para quem investe. Pior ainda para quem sonha em tocar o sino da bolsa.
Na bolsa de valores o jogo é bruto, lá “sobrevivem” os negócios que entregam crescimento constante em receita e lucro. Principalmente lucro.
O grande vilão das empresas que abriram capital na janela de IPOs que originou a safra analisada foi a elevação da taxa de juros, saindo de 2% no final de 2020 e chegando no patamar atual de 13,75%, o que impactou muitos negócios que precisam de capital de terceiros para crescer.
🎩 DICAS DO GRANDFOUNDER
Uma conclusão relevante é que as janelas de IPO acompanham a curva de juros. Quando menor, mais favorável para quem quer abrir capital.
Sabemos também que as oportunidades de M&A também estão fortemente correlacionadas com as aberturas de capital, pois crescimento via aquisições é uma estratégia adotada por muitas empresas listadas.
Num IPO quem normalmente vende suas ações são os investidores institucionais (fundos, por exemplo). Historicamente, os empreendedores não vendem grandes quantias numa abertura de capital. Pega mal, inclusive.
E aí, quando teremos uma nova onda de IPOs?
Seguimos de olho na queda da taxa de juros, sem deixar de focar na execução + crescimento + rentabilidade. Estar preparado é sempre a melhor estratégia!
Tem M&A na educação: Exame + Witseed
O Grupo Exame anunciou a aquisição da Witseed e quer se tornar um dos três maiores em educação corporativa, um mercado estimado em mais de R$ 20 bilhões ao ano no Brasil.
Não foram abertos detalhes da transação, mas o que se sabe é que houve um alinhamento forte para que os empreendedores da Witseed capturem muito valor do negócio no longo prazo.
A Witseed foi fundada em 2017, oferece 130 cursos e conta com uma base de 40 mil alunos, atendendo clientes de peso como Vale, Natura e Gerdau. O fundador e CEO da startup assumirá como head da vertical de educação corporativa da Exame Academy.
Tenho dito que a educação no país é uma das bolas da vez. O setor teve sua resiliência provada ao extremo com a pandemia, sem falar nos desafios da economia e administração pública.
Mas temos visto novos nomes com grandes ambições no segmento de educação, movidos por uma mistura de propósito em causar impacto positivo na formação dos brasileiros, como também em gerar grandes negócios.
Sigo animado e acompanhando de perto, torcendo pelo progresso da nossa educação.
Faça algo maravilhoso — Jobs 🍎
Tem novidade para os fãs de Steve Jobs. E eu me incluo nessa!
O site Steve Jobs Archive, que é uma espécie de repositório online da história do grande empreendedor que influenciou e impactou demais a minha geração, lançou um livro superinteressante sobre a história de Jobs. Totalmente free!
Make Something Wonderful traz uma curadoria (grande parte inédita) de fotos, discursos, entrevistas, emails e passagens marcantes da vida de Steve Jobs. O maior diferencial do livro é que temos acesso à história de Jobs, nas suas próprias palavras… se assim você quiser interpretar.
O livro foi estruturado como uma timeline, mergulhando em momentos da vida, desde a infância, passando por bastidores do dia a dia na Apple, além das empreitadas na Pixar e NeXT, até os momentos mais recentes da sua história.
Eu estou lendo, e recomendo (já adicionei nas sugestões de leitura da Biblioteca do GrandFounder).
🔮 “Aspas” do GrandFounder
“Uma das maneiras que eu enxergo para as pessoas expressarem a gratidão para com a humanidade é fazer algo maravilhoso e torná-lo acessível.”
— Steve Jobs
Por hoje é só! Para mim fica a convicção de que o sucesso é muito mais sobre fazer algo que seja grandioso pelo impacto na vidas das pessoas e menos sobre resultados financeiros.
Obrigado pela companhia em mais uma edição de The GrandFounder.
Enquanto a edição da semana que vem não chega, compartilhe esta aqui com seus amigos… Custa zero, mas vale muito! 😎
Abração!