[The GrandFounder #70] O que os investidores querem das startups?
Como eu captei R$ 4 milhões em um tempo tão turbulento quanto o atual, o balanço dos aportes em startups no primeiro tri de 2023 (para onde vamos?) e a startup pré-operacional que captou uma bolada.
🌪️ Sobrevivendo à tempestade: como eu captei R$ 4 milhões num momento tão instável quanto o atual
Esta é a lição número #70 de Do ZERO ao EXIT em 100 lições, uma série de conteúdo autoral criada por mim com o objetivo de compartilhar as lições aprendidas vivenciando os desafios da minha jornada empreendedora na Hiper, do nascimento à venda da empresa.
Quando olho para o momento em que vivemos no ecossistema de startups, lembro da época quando decidimos captar a rodada de investimento da Hiper. Isso foi em meados de 2015-2016 e o nosso objetivo era levantar R$ 4 milhões, uma Série A para os números daquela época… outros tempos!
O momento era semelhante em muitos aspectos. Os desafios idem.
A taxa de juros (Selic) estava tão alta quanto agora, o Brasil enfrentava (também) uma crise política que resultaria no impeachment da presidente Dilma e planejar o futuro era tão difícil quanto jogar futebol na neblina.
Você consegue imaginar que com um cenário tão assombroso, nenhum fundo de investimento estava com grande apetite para fazer apostas. Pois bem, eu vivi na pele esse momento.
De fato, muitos fundos com os quais estávamos nos relacionando, simplesmente deram uma pausa nas conversas. Aquela pausa em alto estilo e sem grandes explicações, embora as razões
eramsão óbvias.
O meu objetivo aqui é compartilhar o que foi aprendido com a realidade vivida e que, após a fase de grande bonança e euforia nos investimentos em startups, tivemos motivos de sobra para esquecer das dores do passado.
O que foi vital para nós termos conseguido captar R$ 4 milhões com dois fundos em um momento pouco favorável (como o atual)?
Primeiramente, a Hiper tinha números bastante saudáveis. Quando você abre os números da sua empresa para serem analisados, ter big numbers saudáveis e métricas que conversam com bons benchmarks de mercado são um cartão de visitas e tanto.
Um bom histórico de crescimento e números que mostravam a evolução das métricas-chave do nosso motor de tração.
Não me refiro apenas a crescimento estratosférico e curvas exponenciais. Crescimento constante, onde mês a mês você empilha resultado te dá uma boa credencial a respeito da aderência da sua solução para o mercado e (tão importante quanto) da sua capacidade de fazer acontecer.
Sempre fomos muito disciplinados e pragmáticos no planejamento financeiro. Os próximos 5 anos estavam projetados e fundamentados em alavancas de crescimento comprovadas.
Neste ponto me refiro exatamente ao oposto do que tipicamente vimos por aí: premissas baseadas em hipóteses sem histórico algum para elementos-chave como taxa de conversão, aumento de demanda, ampliação de ticket médio, etc.
A cereja do bolo, a meu ver, era a estrutura enxuta de custos e despesas, com um time dimensionado sem excessos. Gastar somente o essencial demonstra maturidade e responsabilidade, dois fatores que somam pontos preciosos quando falamos sobre usar o dinheiro de terceiros.
Em suma: boas métricas operacionais + planejamento financeiro bem feito + operação enxuta. Dinheiro que gera dinheiro era um dos nossos lemas na gestão. Não se apegue a isso como uma fórmula de sucesso. Nem sei se isso existe de fato. Absorva como um exemplo real, que deu certo num cenário semelhante ao atual.
Obviamente muitos outros fatores acabam jogando a favor numa captação de investimentos. Apenas não ignore que tudo começa quando você gabarita no básico: construir um negócio que tem eficiência financeira e se sustenta ao longo do tempo.
Fazer o básico bem feito, crescendo (um pouco que seja) todo mês, ao longo de muitos meses também dá resultado. Pense nisso!
🔥 Bora para a resenha da semana?
Aportes em startups seguem em queda livre
O balanço do primeiro trimestre de 2023 reflete o que tem sido falado sobre o tal “inverno das startups”. É o que aponta o Inside Venture Capital Report, publicado pelo Distrito.
No Brasil, foram realizados apenas 91 aportes em startups nos primeiros três meses deste ano, uma queda de 71% quando comparado com o mesmo período de 2022. Em volume financeiro a queda foi de 86% com pouco mais de US$ 247 milhões captados, enquanto no mesmo período de 2022 o número superou US$ 1,7 bilhão.
Muitas startups têm buscado alternativas como o enxugamento dos custos (para alongar o caixa), a estruturação de operações de M&A e a captação via dívida, modalidade que cresceu 14% neste ano.
Resiliência tem sido palavra de ordem. Força founders, tudo passa!
Com o casaco certo para o inverno (das startups)
Uma trilha que não podia faltar no South Summit Brazil reuniu bons nomes do ecossistema de venture capital brasileiro para dar seu ponto de vista sobre o momento no seu mercado.
O tema central (claro) foi o calcanhar de aquiles para as startups que precisam de investimento externo para seguir operando. Temos visto rodadas acontecendo. Bem menos do que se esperava, mas estão acontecendo.
Entretanto, há o duro revés da remarcação dos valuations para baixo (down rounds) além de casos “menos piores”, quando se mantém o valuation estabelecido na rodada antecedente, sem flutuação nem para cima, nem para baixo (flat rounds).
De fato há muita gente querendo levantar dinheiro, uma vez que a grande safra de startups que captou em 2021 está vendo seu caixa se aproximando do fim, motivador forte o suficiente para seguir com uma rodada, mesmo que para isso penalize o valuation em troca da sobrevivência do negócio.
A recomendação é não sofrer demais (desapegar) se houver uma remarcação do valuation e seguir em frente. Infelizmente, é o pedágio para evitar o “game over”.
Aporte no PowerPoint… com AI tá valendo?
A startup Assis, cujo software está previsto para ser lançado no mercado durante o mês de abril captou uma bolada. O pix foi de R$ 27,5 milhões encabeçado pela Costanoa, Maya, Canaan, Norte Ventures, Latitud, FJ Labs, 1616, BFF e mais alguns anjos.
O objetivo do negócio é ajudar os profissionais autônomos a tocarem seu dia a dia com menos esforço, otimizando atividades como atendimento aos clientes, emissão de orçamentos e a cobrança, por exemplo. Com um bot integrado ao ChatGPT, a ideia é que se economize tempo e melhore a eficiência.
O que acende a luz de alerta quando vimos uma startup pré-operacional anunciando uma rodada (ainda mais quando se trata de um montante tão expressivo) é a dúvida sobre o nível de maturidade da solução oferecida, ou seja, ela de fato resolve um problema real? O modelo de receita está validado? E a máquina de tração?
A resposta está aqui. O histórico do trio de fundadores traz a credibilidade que justifica o aporte nessa fase tão pré-operacional. Quem já fez, carrega nos ombros o seu histórico, e os resultados credenciam. Por isso empreendedor, valorize sua jornada, ela será seu grande ativo.
Raphael Machioni - fundou e foi o CEO da Vee Benefícios, startup que foi vendida para a francesa Swile em 2020.
João Bergamo - ex-CFO da Vee Benefícios.
Vagner Dutra - fez parte do time de tecnologia do PicPay na época da fundação.
Experiência essa turma tem para encontrar as respostas. Com um bom dinheiro no caixa, agora é focar na execução!
🔮 “Aspas” do GrandFounder
“Quando tudo parece estar indo contra você, lembre-se que o avião decola contra o vento, não a favor dele.”
— Henry Ford
E assim nos despedimos de mais uma edição de The GrandFounder. Obrigado pela companhia. Até semana que vem!
Se você curtiu e acredita que mais gente pode aprender algo com esta edição, compartilhe… Custa zero, mas vale muito! 😎
Abração!