[The GrandFounder #69] O que importa na hora de atualizar seus investidores
Como elaborar um bom reporte para investidores, PicPay com lucro (e querendo IPO), um raio-x da aquisição da Becon pela CRM&BONUS e quem é o alvo da Visa, que anda de olho em M&A no Brasil.
📊 Métricas, novidades e problemas: como compartilhar tudo num reporte para investidores
Esta é a lição número #69 de Do ZERO ao EXIT em 100 lições, uma série de conteúdo autoral criada por mim com o objetivo de compartilhar as lições aprendidas vivenciando os desafios da minha jornada empreendedora na Hiper, do nascimento à venda da empresa.
Para quem já possui investidores ou para quem planeja buscar investimento no futuro, o hábito de enviar rotineiramente reportes com atualizações sobre o negócio é uma excelente prática para desenvolver um relacionamento saudável com os interessados.
Além de ser um bom sinal de transparência, algo valioso hoje em dia.
Na minha vida já estive dos dois lados da mesa: quando estava à frente da Hiper procurava manter meus investidores sempre atualizados (inclusive após termos vendido a empresa) e, nessa nova fase, recebendo as atualizações dos negócios onde sou sócio.
Para ajudar outros empreendedores na missão de estruturar uma rotina de reportes mensais para os investidores, a seguir vou compartilhar um roteiro para chegar lá.
De forma geral, sendo simples e enxuto, recomendo que estruture um documento que contenha as seguinte seções:
Indicadores principais
Resultados qualitativos
Desafios e pedidos de ajuda
Compromissos assumidos (next steps)
O formato fica a seu critério… para quem gosta (e tem tempo) pode adotar algo mais sofisticado em design e recursos visuais, mas saiba que um documento de texto (com o apoio de alguns gráficos) dá conta do recado de forma espetacular. O conteúdo vale 100x mais do que as firulas.
Vamos passar por cada seção para você entender o que não deveria deixar de estar contido em cada uma delas.
[Seção 1] Indicadores principais
Comece com uma seção para os indicadores de desempenho (KPIs) e principais números da operação, que permitam a interpretação de como o negócio está avançando.
Faz parte desse tópico métricas como:
Faturamento — desdobre entre Receita Recorrente e Não recorrente e/ou as principais fontes de receita (produtos/serviços).
EBITDA (em valor $ e margem %)
Posição de caixa e resultado do mês (queima ou geração)
Clientes ativos (base total, adquiridos, contratos ampliados)
Retenção (renovações e cancelamento/churn)
Custo de Aquisição de Clientes (CAC) — e a relação deste com o lifetime value (LTV) [LTV/CAC é uma métrica bem conhecida dentre as startups, mas se soar estranho, vale uma leitura complementar]
Número de funcionários
Indicadores de satisfação (ex: NPS, CSAT, CES, etc)
São algumas sugestões, sabendo que cada negócio tem suas peculiaridades e, consequentemente, métricas específicas que valem ser consideradas. Reflita sobre o que é importante acompanhar para chegar a uma conclusão sobre como está a saúde do negócio.
Algumas dicas de ouro:
Procure destacar como as métricas avançaram desde o último reporte, quais melhoraram ou pioraram e quanto foi a diferença.
Certos indicadores são mais fáceis de entender se forem demonstrados em gráficos que podem, inclusive, contemplar alguns meses de histórico.
Vale apresentar certos indicadores (como faturamento, por exemplo) ao lado da meta do mês, deixando claro como foi o desempenho em relação ao objetivo.
Você também pode trazer a expectativa (meta) para o mês atual, dando uma visão para onde a empresa está caminhando e o compromisso assumido.
[Seção 2] Resultados qualitativos
Após os indicadores quantitativos eu recomendo adicionar uma seção para abordar resultados sob a perspectiva qualitativa.
Você pode destacar novos lançamentos de produto, bem como reportar o avanço de projetos-chave que estejam sendo desenvolvidos, trazer novidades sobre clientes, movimentações no time, além de informações sobre o negócio e o seu mercado.
Separe em dois blocos:
Highlights (as “good news”) — o que rolou de positivo, coisas para comemorar, conquistas e afins. Sem métricas de vaidade, por favor.
Lowlights (as “bad news”) — quais foram as pisadas de bola, onde vacilaram, o que ficou abaixo do desejado. Sempre tem!
[Seção 3] Desafios e pedidos de ajuda
Vá direto ao ponto (sem medo de ser mal interpretado) e exponha o que está tirando o seu sono, os perrengues que estão enfrentando, suas preocupações e quais as questões que você sente que pode receber um aconselhamento ou um direcionamento do seu grupo de investidores.
É um bom espaço para pedir ajudar com conexões, sabendo que um grande ativo que os investidores trazem são as relações que eles possuem com o mercado. Pode ser uma boa ponte para abrir portas em novos clientes, aproximar talentos, desenvolver parcerias ou buscar apoio para os desafios do momento.
Um conselho meu: não tenha receio de abrir a caixa preta dos problemas e desafios. Seus investidores também querem o sucesso do negócio, embora os problemas estejam no seu colo, todos (incluindo eles/elas) são afetados pelas consequências.
[Seção 4] Compromissos assumidos (next steps)
O que pode-se esperar para o próximo ciclo (mês, trimestre)?
Você pode dedicar uma seção para deixar claro quais são os compromissos que você e o seu time assumiram. Quais são as entregas, avanços e resultados que serão foco da empresa até o próximo reporte.
. . .
Se você não tem o hábito de enviar reporte para seus investidores, repense.
O esforço compensa quando você mantém todos alinhados sobre o andamento da empresa, sobre o que está indo bem, assim como a respeito daquilo que está abaixo do desejado.
Manter todos na mesma página é uma boa forma de ganhar a confiança e o respeito das pessoas que têm alguma expectativa para com o sucesso do negócio.
🔥 Bora para a resenha da semana?
Inside The Deal #7 | CRM&BONUS + Becon
Nos últimos 18 meses vimos a CRM&BONUS adquirindo 4 empresas. Um apetite e tanto em tempos de “vacas magras” para o mercado de startups.
A novidade é aquisição da Becon, startup catarinense que desenvolveu uma plataforma para automação da comunicação via WhatsApp.
#InsideTheDeal ✨ um raio-x da transação:
O valor da transação é de R$ 18 milhões, com pagamento parte em dinheiro e parte em ações da CRM&BONUS.
A Becon fatura atualmente R$ 5 milhões (ano), logo o múltiplo do negócio foi 3,6x o faturamento.
A startup atende atualmente 216 clientes em 400 cidades do Brasil e tem 23 colaboradores no time.
A adquirida será incorporada e o CEO da Becon assume como head de WhatsApp Services na CRM&BONUS.
Um dos maiores motivadores para a aquisição são os planos da CRM&BONUS de adotar o WhatsApp como canal principal de comunicação (ao invés do SMS) com os clientes da sua plataforma de giftback, melhorando a experiência e reduzindo uma linha significativa de custos.
Além da aplicação na mensageria com os clientes, certamente a compradora está de olho nos movimentos de chat-commerce, tendência forte no comércio eletrônico.
Uma curiosidade: a Becon foi fundada em 2017, começando como um projeto do Startup Weekend que aconteceu em Joinville naquele ano.
A assessoria da transação foi feita pela Questum. Mais um deal para a conta, timeee!
O primeiro lucro a gente não esquece
O PicPay viu seu primeiro lucro desde que surgiu e diz que esse é o novo normal para a companhia, que sinalizou que enxerga um IPO logo à frente.
Fundada em 2012, a companhia de serviços financeiros contabilizou lucro de pouco mais de R$ 20 milhões no último trimestre de 2022, mas fechou o ano com prejuízo de R$ 693 milhões. A cifra é expressiva, porém reduziu consideravelmente quando comparada com 2021, quando o prejuízo foi de R$ 1,9 bilhão.
A intenção é fazer a abertura de capital nos Estados Unidos, mas a pedida ainda é por cautela, dado que o momento atual não é nem um pouco favorável, nem no cenário macro, nem no que se refere ao desempenho específico da empresa até então.
Certamente o mercado vai exigir muito mais previsibilidade quanto à sustentação do novo perfil de lucro que a empresa anunciou que seguirá a partir daqui. Mais do que nunca, o momento é de entregar o que se promete e seguir com os pés bem firmes no chão.
Visa de olho em M&A no Brasil
Não é comum vermos a Visa encabeçando transações de M&A por aqui. De forma geral, a Visa não é uma compradora super ativa. Mas ventilou no mercado que a gigante americana está de olho na brasileira Pismo com uma oferta de US$ 1,4 bilhão.
A negociação deve ficar ainda mais quente, pois ao que tudo indica a Mastercard também está no páreo. Duelo de titãs…
Não é de se espantar que a plataforma brasileira de serviços bancários e pagamentos tenha chamado a atenção das potências do mercado de cartões. Os números da companhia são surpreendentes:
São 74 milhões de contas processadas
O número de contas cresceu 30% em seis meses
38 milhões de cartões ativos na plataforma
Atende clientes como Itaú, BTG, Citi e B3… para citar apenas alguns nomes de grande relevância.
A conexão entre as empresas vêm de outros carnavais. Alguns anos atrás, em 2018, vimos a primeira aquisição da Visa no Brasil, quando comprou uma participação minoritária da Conductor (atual Dock), empresa fundada por Ricardo Josua, que é um dos fundadores da Pismo.
Outro fato interessante da Pismo é que ela fez apenas duas rodadas de captação na sua história. Em 2016, quando foi fundada, captou US$ 10 milhões e, em 2021 captou mais US$ 108 milhões, numa rodada liderada pelo Softbank.
Vejo duas conclusões interessantes sobre essa história…
🎱 Primeiro: a transação bate num grande mito de muitos empreendedores que acreditam que um exit só vem depois de uma sequência de rodadas de investimento. Na prática, não há nenhuma ligação entre vender uma empresa e ter captado investimentos.
🎱 Segundo: talvez o Softbank esteja perto de marcar um golaço, hein! Nada mal para a afastar a “zica” que eles vêm enfrentando.
🔮 “Aspas” do GrandFounder
“Se você não pode fazer grandes coisas, faça pequenas coisas em grande estilo.”
— Napoleon Hill
Numa semana que nos permitiu falar de pequenas, médias e grandes cifras, concluímos mais uma edição de The GrandFounder.
Obrigado por acompanhar… vamos que vamos! Se você curtiu, compartilhe com a turma aí… Custa zero, mas vale muito! 😎
Um abração e até semana que vem!