[The GrandFounder #68] Gente boa (lado a lado) no longo prazo
Como reter os talentos-chave no longo prazo (sabendo que não há bala de prata), Stripe avante com o caixa cheio e um down round daqueles e a parceria com cheiro de M&A entre Lopes e QuintoAndar.
🏆 Como usar programas de incentivo via equity (ou não) para reter talentos-chave no longo prazo
Esta é a lição número #68 de Do ZERO ao EXIT em 100 lições, uma série de conteúdo autoral criada por mim com o objetivo de compartilhar as lições aprendidas vivenciando os desafios da minha jornada empreendedora na Hiper, do nascimento à venda da empresa.
O que todo empreendedor sonha é poder contar com um time engajado com o negócio e capaz de executar os planos de futuro. Acima de tudo, o que se deseja é gente com capacidade de fazer acontecer. Principalmente, no longo prazo.
Mas como manter-se rodeado de pessoas comprometidas com o negócio, e não correr (ou mitigar) o risco de perdê-las para o mercado?
Vivemos há pouco tempo uma época de excesso de capital e muitos negócios com os caixas cheios conseguiam atrair talentos com propostas absurdamente irrecusáveis. Eu senti na pele o desafio de manter conosco (na Hiper) pessoas de grande valor para o negócio. O mercado esteve irracional… e deixou suas marcas.
O pior é que quem entra por dinheiro quase sempre sai pelo mesmo motivo. Porém, em épocas onde o resultado do curto prazo fala mais alto do que a construção de relações duradouras, ter uma estratégia de retenção de talentos-chave é fundamental.
Nesse contexto, um caminho para criar sua estratégia de retenção de gente boa (e essencial) passa pelo que chamamos de programa de Incentivo de Longo Prazo (ILP). Estudei bastante sobre o tema e chegamos a implementar na Hiper o programa “Aqui Somos Donos” após a aquisição pela Linx.
A seguir, vou compartilhar alguns formatos possíveis de implementar um programa de ILP para beneficiar pessoas essenciais para o negócio, através de dinheiro ou participação societária (equity).
Stock Options Pool (SOP)
É bastante comum nas startups e muita gente chama de “vesting”, confundindo os conceitos (explico na sequência). Na prática, a empresa concede à pessoa um direito de comprar uma participação societária da empresa por um preço pré-fixado.
Exemplo: Uma empresa concede a alguém o direito de compra de 100 ações da companhia a ser exercido em intervalos de 12 meses, ao longo dos próximos 3 anos, pelo valor simbólico de R$ 100,00.
Após 12 meses, a pessoa pode comprar 100 ações por R$ 100,00. O mesmo acontece após 24 e 36 meses, podendo adquirir mais 100 ações em cada momento.
O preço das ações são mantidos fixos no valor acordado mesmo que a empresa tenha aumentado seu valor de mercado.
Os três momentos pactuados (12, 24 e 36 meses) caracterizam o vesting, ou seja, a cada janela de tempo a pessoa ganha o direito de exercer a compra citada no tópico anterior.
Uma vez concedida a opção de compra, pode ser estipulado um período de tempo limite para que a pessoa exerça o seu direito de compra. Caso contrário, a opção de compra expira.
Um cenário possível é a empresa perder valor de mercado e as ações estarem valendo abaixo do valor pactuado. Neste caso, a pessoa pode optar por não exercer o direito de compra.
Ações Restritas (RSU)
Funciona de forma semelhante ao modelo de stock options. Porém, com as ações restritas a pessoa recebe diretamente as ações da empresa (ao invés do direito de compra da participação societária).
As ações restritas comumente ficam impossibilitadas de serem vendidas por um período.
Podem ser aplicadas outras restrições, como por exemplo, não dar direito a voto.
Também pode ser aplicado o conceito de vesting, onde as ações da companhia são concedidas em determinadas frações de tempo.
Ações Fantasma (Phantom Options)
Semelhante ao modelo de ações restritas, com um único detalhe: ao invés das ações da empresa a pessoa recebe em dinheiro o equivalente à participação societária que teria direito.
Como o benefício é recebido em dinheiro passando pela folha de pagamento, logo haverá a incidência dos encargos.
É um modelo útil para empresas Limitadas ou S/A fechadas, onde a movimentação societária é mais complexa/burocrática.
Partnership
Neste modelo, as pessoas elegíveis podem comprar uma participação da empresa pagando o preço de mercado (valuation) na data da aquisição.
Os critérios de elegibilidade e demais termos são pactuados contratualmente e, normalmente estão atrelados a metas de performance e/ou permanência.
É comum que a compra seja feita de outro sócio participante do programa de partnership ou de uma reserva de ações sob posse da própria empresa, destinada a tal finalidade.
Stock Matching
O stock matching é uma espécie de contrapartida atrelada aos modelos citados anteriormente.
Neste caso, pactua-se uma contrapartida a ser incrementada pela empresa sobre o volume de ações que a pessoa adquiriu. Esse modelo traz um comprometimento por parte do beneficiário, ou seja, a empresa concede um multiplicador “X” sobre a quantia adquirida pelo beneficiário.
Para evitar dores de cabeça e construir um plano que tenha melhor aderência com a governança e o modelo societário do seu negócio não dispense uma boa assessoria jurídica e tributária para formalização.
Existem algumas formas de colocar em prática um programa de Incentivos de Longo Prazo e tão importante quanto o formato é pensar no alinhamento dos incentivos.
Quando todo mundo faz gol para o mesmo lado, fica mais fácil contar com gente motivada e comprometida com os resultados… principalmente no longo prazo!
🔥 Bora para a resenha da semana?
Lopes ❤️ QuintoAndar
Ou está mais para o QuintoAndar flertando?
O mercado imobiliário está de olho na parceria anunciada entre a Lopes e a QuintoAndar.
A parceria não envolve nenhum trâmite societário, foi pontuada claramente como sendo apenas comercial… mas estamos falando de uma das maiores imobiliárias do país e do unicórnio que mais tem “cutucado” o setor imobiliário por aqui.
Com o acordo, os imóveis disponíveis na plataforma de cada empresa serão acessíveis também na plataforma da outra e vão dividir a receita da comissão dos negócios fechados por uma das empresas a partir dos imóveis originados pela outra.
Embora as companhias neguem qualquer hipótese de um M&A, na minha visão, a aproximação pode sim ser um bom começo de uma relação mais forte entre as empresas. Citaram até que as empresas já tinham uma relação “harmoniosa” antes da parceria. Hummm… sei! 🫶🏻
O movimento é grandioso, pois a Lopes tem 250 mil imóveis na base e a QuintoAndar 150 mil, sendo que mais de 75% desses são distintos. A Lopes é forte na venda, enquanto a QuintoAndar na locação. Juntas, as empresas recebem 30 milhões de acessos por mês. Sinergias não faltam!
E tudo bem se a parceria evoluir para uma aquisição. Aliás, estabelecer parcerias comerciais para desenvolver negócios em conjunto é uma das grandes faíscas para um M&A acontecer. Fica a dica!
Stripe: caixa cheio e down round
O mercado aguardava algum anúncio da Stripe desde o início do ano quando a companhia sinalizou para o mercado que havia contratado o Goldman Sachs e o JP Morgan para avaliar a possibilidade de um IPO.
Esse movimento foi assunto da edição 61 de The GrandFounder.
Temos um deal! Não foi o IPO (pelo menos não ainda) e sim uma nova rodada de captação de pouco mais de US$ 6,5 bilhões que avaliou a companhia em US$ 50 bilhões. O dinheiro, em partes, vai dar liquidez para um grupo de funcionários que tinha ações da empresa e que corriam o risco de perder o direito se um evento de liquidez não ocorresse (falamos muito sobre isso na newsletter de hoje).
A rodada segue o padrão - down round pesado - dos tempos atuais para as startups que surfaram a bonança de valuations inflados na época do excesso de liquidez puxada pelos juros baixos. A Stripe chegou a valer US$ 95 bilhões na captação que fez em 2021. Para se ter uma ideia, a startup valia mais do que qualquer empresa brasileira. Essa rodada confirma um down size de quase 50% no valor da startup.
Apesar dos pesares, a captação da Stripe é expressiva, historicamente uma das maiores cifras já vistas globalmente entre startups. Além do mais, estamos falando de uma rodada desse calibre sendo anunciada dias após a falência do Silicon Valley Bank, que deixou empreendedores, investidores e o governo americano de cabelo em pé.
🔮 “Aspas” do GrandFounder
“Muitas empresas não têm sucesso após um tempo. O que elas fundamentalmente fazem errado? Negligenciam o futuro.”
— Larry Page, fundador do Google
E assim chegamos ao final de mais uma edição de The GrandFounder, sabendo que o futuro é feito de passo em passo, com talentos-chave, parcerias fortes e dinheiro no caixa.
Obrigado pela leitura!
Se você curtiu, compartilhe com a turma aí… Compartilhar conhecimento é aquele tipo de coisa que custa zero, mas vale muito! 😎
Nos vemos na semana que vem!
muito bom!