[The GrandFounder #65] A rota dos unicórnios (e dos arrependidos)
Esqueça o discurso da rota dos unicórnios sem deixar de lado os planos da independência financeira, Magalu e Kabum lavando roupa suja, a Apple firme sem demitir e novidades lá da firma
🦄 A rota dos unicórnios e os empreendedores que mudaram de vida
Esta é a lição número #65 de Do ZERO ao EXIT em 100 lições, uma série de conteúdo autoral criada por mim com o objetivo de compartilhar as lições aprendidas vivenciando os desafios da minha jornada empreendedora na Hiper, do nascimento à venda da empresa.
Levar uma startup ao estágio de Unicórnio (valor de mercado acima de 1 bi de dólares) virou o sonho de muitos empreendedores. Era só no que se falava até outro dia.
Agora, num momento onde o venture capital anda com menos apetite por valuations esticados o assunto saiu um pouco dos holofotes, mas vez ou outra ainda me deparo com empreendedores adeptos do discurso da rota do unicórnio.
O que há tão de mágico nisso?
Na boa, para muita gente é algo visto como um marco de sucesso da jornada empreendedora. Afinal, enquanto muitos colegas ficaram pelo caminho ao tentar construir um negócio que pelo menos desse certo, outros poucos conseguiram levar o seu negócio ao valuation mitológico.
Particularmente, eu enxergo que está mais para uma questão de vaidade do que sucesso de fato. Sucesso é relativo e, como costumo dizer, tem vários significados. Concorde você ou não, essa é a minha opinião. E não precisamos de consenso para nos mantermos amigos, combinado? #paz ✌🏼
Mas vou explicar minha visão.
Bem, para chegar lá é preciso seguir a maratona das rodadas sucessivas de captação, onde a cada nova rodada, o valor de mercado (valuation) da startup é atualizado até que… boom… rompe-se a barreira de 1 bi de dólares.
Entenda um detalhe, ter um negócio avaliado em 1 bi de dólares não significa que você está com essa quantia no bolso. E nem próximo de estar.
O selo de unicórnio chega através de uma captação que, conforme dados de mercado, vai tomar algo entre 10-20% do equity e vai gerar um “compromisso” (entre aspas, mas nem tão figurativo assim) de retornar para o seu investidor algo superior a um múltiplo de 4x o que ele investiu. Logo, você deveria fazer seu negócio valer pelo menos 4x mais ao longo dos anos seguintes para possibilitar a saída desses investidores.
— Não está escrito em pedra, mas retornos menores que esse estão longe de ser o sonho de consumo do venture capital.
Isso simplesmente te joga para fora da pista onde a maioria das transações de M&A estão acontecendo, que transitam na faixa entre R$ 50 e 200 milhões (observe, de reais). Talvez isso signifique um passo para fora da rota de se tornar milionário de verdade.
Mas e o IPO? Numa abertura de capital, quem normalmente vende sua participação são os investidores. Soa mal o empreendedor se desfazer de uma porção significativa das suas ações justamente no momento onde pede para o mercado apostar no seu negócio. Portanto, IPO está mais para captação de recursos do que um grande evento de liquidez para o empreendedor.
A rota do unicórnio é possível, mas é algo para poucos. E desses poucos, teremos uma parcela ainda menor onde a relação tempo/esforço versus grana no bolso fez valer a pena. Segundo o Distrito, apenas 1/3 das startups que levantaram uma rodada de Série A fazem uma rodada seguinte e algo entre 1 e 2% das startups chegam à Série D (onde normalmente os unicórnios nascem).
Eu fiz um caminho bem diferente com a Hiper. Quando vendemos a empresa (em 2019), fizemos uma transação muito boa para a época. Graças à essa escolha, hoje estou em outro momento da vida… e não me arrependo de nada!
Se você sonha com a rota dos unicórnios, desejo competência e sucesso, de verdade. A amizade será sempre a mesma.
E para aquelas pessoas que buscam (além de outras coisas) enriquecer vendendo sua empresa, preste atenção num movimento comum que acontece no M&A.
Empresas com faturamento anual entre R$ 15 e 60 milhões e margem EBITDA de 2 dígitos são as queridinhas dos compradores… essas são as startups que estão sendo adquiridas por valuations da faixa citada anteriormente: R$ 50 e 200 milhões.
Normalmente são startups onde o grupo de fundadores não diluiu muito sua participação acionária com captações sucessivas e que colocam no bolso (juntos) uma fatia superior a 50% do cheque.
Dá para mudar de vida… pense nisso!
🔥 Bora para a resenha da semana?
Questum Investimentos on the stage!
Temos novidades lá na firma… e novidades quentes!
A Questum anunciou seu novo braço de atuação, agora vai (também) investir em startups.
Entrei para o time de sócios da Questum em 2022 e o principal motivador para mim foi me manter (após a saída da Hiper) presente na jornada das startups, apoiando empreendedores nas estratégias de crescimento até a venda da empresa.
Queremos investir nas startups que enxergam um M&A no seu horizonte e o investimento terá papel fundamental para fazer o trajeto do dia atual até o patamar alvo onde a startup estará pronta para ser vendida.
Temos um jeito bem pragmático de atuar, seguindo um pensamento de trás para frente, do objetivo para o momento presente, ou seja, para chegar ao tamanho que fundamente o valuation desejado pelos empreendedores, é necessário executar um plano de crescimento que, por sua vez, pode precisar de injeção de recursos.
É onde o braço de investimentos da Questum apresenta-se como peça-chave.
🦄 Ninguém precisa ser unicórnio para ter sucesso. Bora!
Magalu e Kabum - quando o casamento vai à pique
A aquisição da Kabum pela Magalu por R$ 3,5 bilhões foi anunciada em julho de 2021 e movimentou a cena empreendedora. Agora parece que melou!
Os fundadores da Kabum foram à justiça pedindo a anulação da venda para a Magalu, levantando dúvidas sobre a forma como a transação foi realizada. Um reflexo imediato foi a demissão dos fundadores e de outros diretores da Kabum.
Como nem tudo que reluz é ouro, no caso em questão, por trás da cifra bilionária existem os termos da negociação.
O valor da transação foi de fato R$ 3,5 bi.
Desse montante, R$ 1 bi foi pago em dinheiro quando o negócio foi fechado.
O restante envolvia a transferência de 75 milhões de ações da Magalu ao longo de um ano e meio.
Está previsto um adicional de até 50 milhões de ações em janeiro de 2024 atrelado a metas.
Um detalhe importante: as ações flutuam, podendo subir (o que é ótimo), assim como podem perder valor.
Foi esse o caso das ações da Magalu que hoje valem cerca de 15% do que valiam na época, ou seja, os R$ 2,5 bi que foram pagos através de ações valem atualmente menos de R$ 380 milhões.
Na pele dos empreendedores é uma realidade dura, mas o pagamento através de ações é uma prática comum no M&A. Para mim, o mais desconfortável foi a proporção do pagamento que ficou atrelado a ações da Magalu, algo que a turma da Kabum (por melhor que tenha performado) exerce pouca influência no sobre e desce das cotações.
Uma história que ainda vai dar o que falar. Fica o aprendizado!
Por que a Apple não demitiu em massa?
Levante a mão aí se você (também) não para mais para ler sobre demissões em massa em empresas tech. Lemos o título da notícia e concluímos: mais uma leva de gente #opentowork.
Mas um fato controverso me chamou a atenção esses dias: a Apple passou ilesa até agora nas demissões em massa. O contrário de outras big techs como Microsoft, Google, Amazon, Tesla, Meta…
Em suma, a Apple não precisou reduzir custos de forma tão drástica. Mas por quê?
Existem dois fatores principais que jogaram à favor da Apple.
🍏 Primeiro: a companhia contratou bem menos que as outras durante o boom de demanda vivido nos últimos anos. Ela foi mais estratégica na hora do oba-oba, pensando justamente num eventual cenário de recessão econômica.
🍏 Segundo: ela tem margens mais saudáveis. Das vendas mundiais de smartphones, 20% são Apple. Porém, 80% do lucro gerado no setor é dela. Coisa linda! Além disso, a saúde das margens é reflexo da bem-sucedida composição da estrutura de receitas, reduzindo a concentração em hardware e aumentando a fatia dos serviços como o Apple Pay e Apple Music, por exemplo.
Longe de mim querer prever se a Apple não fará nenhum corte expressivo no quadro de pessoas. Mas só o fato de ter navegado até aqui sem ter feito gera boas lições para nós empreendedores sobre visão de médio/longo prazo, cuidado das métricas e foco na rentabilidade da operação.
🔮 “Aspas” do GrandFounder
“Nem tudo que reluz é ouro, cuidado com o que você deseja. Cuide bem das coisas que o dinheiro não compra, são elas que te tornam rico.”
Depois de muito falar sobre sonhos, riqueza e felicidade (tendo ou não estas coisas algo a ver entre si) fechamos mais uma edição de The GrandFounder.
Compartilhe com a turma aí… custa zero e vale muito 😉
Até semana que vem, abração!
Parabéns pela newsletter de hoje. Muito informativa e divertida!